Vivências sensoriais na infância: efeitos de uma intervenção pedagógica avaliada pelo Índice de Conexão com a Natureza
DOI:
https://doi.org/10.18675/2177-580X.2025-19393Palavras-chave:
Educação ao ar livre. Educação não formal. Infância. Educação ambiental. Friluftsliv.Resumo
Em um contexto de afastamento dos ambientes naturais, este estudo teve como objetivo investigar os níveis de conexão com a natureza entre crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental, por meio de uma intervenção pedagógica composta por aulas teóricas, atividades práticas em sala e experiências ao ar livre. Trata-se de uma pesquisa de abordagem quali-quantitativa, de natureza descritiva e exploratória, realizada com dezessete crianças do 3º ano do Ensino Fundamental em uma escola pública localizada na região Centro-Oeste do estado do Rio Grande do Sul. O estudo envolveu a aplicação de um mesmo instrumento, em dois momentos distintos, antes e após a intervenção pedagógica. As atividades foram desenvolvidas tanto no ambiente escolar quanto em uma fazenda, integrando espaços formais e não formais de aprendizagem. Utilizou-se uma versão adaptada da escala Índice de Conexão com a Natureza, com catorze itens distribuídos em quatro dimensões: prazer com a natureza, empatia por animais e plantas, senso de unidade e senso de responsabilidade. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva. Os resultados revelaram aumento das dimensões empatia, unidade e responsabilidade, proporcionando maior engajamento afetivo e ético com o ambiente natural. A leve queda na dimensão prazer foi interpretada como uma mudança qualitativa na forma de perceber a natureza, mais realista e profunda. Conclui-se que vivências sensoriais e afetivas ao ar livre favorecem a formação de vínculos significativos com a natureza, contribuindo para o desenvolvimento da consciência ecológica na infância e evidenciando a importância de práticas pedagógicas que promovem essa reconexão.
Referências
ALKIŞ, M.; KÜÇÜKAYDIN, M. Understanding children’s connection to nature in Turkish elementary students: personal factors and the restorative effect of nature. Journal of Environmental Psychology, Amsterdam: Elsevier, v. 98, p. 102393, 2024. https://doi.org/10.1016/j.jenvp.2024.102393.
BACH J. R. A fenomenologia da natureza de Goethe: conexões à educação ambiental. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, Rio Grande, v. 30, n. 1, p. 140-158, jan./jun. 2013.
BACK, G. C. Educação ambiental na educação infantil: percursos, processos e práticas evidenciadas em centros municipais de educação infantil. 2021. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2021.
BAROUTSIS, A.; MACKENZIE, R. Pedagogias responsivas ao lugar na educação infantil. Australian Journal of Environmental Education, Camberra, v. 41, n. 1, p. 20-38, 2025.
BARROS, M. I. A. Desemparedamento Da Infância: a Escola como Lugar de Encontro com a Natureza. 2. ed. Rio de Janeiro: Alana, 2018.
BEATTIE, M. Infâncias enraizadas: identidade ecológica e aprendizagem precoce. Journal of Environmental Education, London, v. 56, n. 2, p. 115-132, 2025.
BÔLLA, K. D. S.; MILIOLI, G. Impactos de características escolares sustentáveis no comportamento ecológico e no bem-estar infantil. Pesquisa em Educação Ambiental, Rio Claro, v. 2, n. 2, p. 115-134, 2022.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. Versão Final. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: http://www.observatoriodoensinomedio.ufpr.br/wpcontent/uploads/2017/04/BNCC-Documento-Final.pdf. Acesso em: 23 mar. 2025.
CARVALHO, I. C. M. O sujeito ecológico: a formação de novas identidades na escola. In: PERNAMBUCO, M.; PAIVA, I. (org.). Práticas coletivas na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2013. p. 115-124 (Vol. 1).
CHENG, J. C.-H.; MONROE, M. C. Connection to nature: children's affective attitude toward nature. Environment and Behavior, Thousand Oaks, v. 44, n. 1, p. 31-49, 2012.
CHAWLA, L. Childhood nature connection and constructive hope: A review of research on connecting with nature and coping with environmental loss. People and Nature, London, UK, v. 2, n. 3, p. 619-642, 2020
DUARTE JÚNIOR, J. F. Fundamentos estéticos da educação. Campinas: Papirus, 2006.
DUHART, M. F. R.; SILVA, A. B. da. Educação ambiental, inclusão e sustentabilidade. Cuiabá: Editora Pantanal, 2024.
ELALI, G. A. O ambiente da escola – o ambiente na escola: uma discussão sobre a relação escola-natureza na educação infantil. Estudos de Psicologia, Natal, v. 1, p. 63-70, 2003.
GARCIA, N. M. A pedagogia Waldorf e a educação ambiental: um diálogo a partir de uma perspectiva ecofenomenológica. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, Rio Grande, v. 25, n. 3, p. 271-288, 2020.
GARCIA, N. M. Early years education in the Anthropocene: an ecophenomenology of children’s experience. Environmental Education Research, London, v. 29, n. 2, p. 217-234, 2023.
GATTI, B. A. A construção da pesquisa em educação no Brasil. Brasília: Plano Editora, 2002.
GIL. A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2022.
GOMES, H. Á.; IARED, V. G. O potencial da pedagogia Waldorf para a educação ambiental em uma perspectiva ecocêntrica. Revista de Educação e Humanidades, Humaitá, v. 2, p. 45-63, 2021.
GOMES, R. N. A. A. S. A educação ambiental na infância e o brincar ao ar livre: desenvolvendo comportamentos ecológicos. 2022. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2022.
GUERIN, C. S.; COUTINHO, C. Educação ambiental na infância: sequência didática baseada no Friluftsliv para fortalecer a conexão com a natureza. Cuadernos de Educación y Desarrollo, Castelo de Paiva, v. 1, p. 22-38, 2025.
HOFSTATTER, L. J. V. Biodiver-cidade: vivendo e experimentando o espaço urbano na educação ambiental para e com a biodiversidade. 2018. Tese (Doutorado em Ciências) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2018.
HUPPES, M. L. C. Educação infantil como lugar de encontro com a natureza: caminhos para desemparedar as crianças na escola. 2024. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia – Licenciatura) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2024.
JUNG, S.; BEARDSLEY, L. M. Ecological identity development in early childhood: insights from nature-based learning. Environmental Education Research, London, v. 30, n. 1, p. 12-30, 2024.
YAMAGUCHI, H. K. L.; ANDRADE, A. B.; SOUZA, F. F. Brincando e conhecendo os peixes da Amazônia: uma ferramenta lúdica para percepção ambiental na educação infantil. Nexus, Manaus, v. 1, p. 1-15, 2019.
LOUV, R. Last child in the forest. New York: Algonquin Books, 2005.
MARAFON, D.; SANTOS, V. L. M. Educação ambiental crítica e o método Montessori: promovendo a aprendizagem através do ambiente natural. Revista Diversidade e Educação, Rio Grande, v. 1, p. 55-70, 2024.
MARIN, A. A. A educação ambiental nos caminhos da sensibilidade estética. Inter-Ação: Revista da Faculdade de Educação da UFG, Goiânia, v. 31, n. 2, p. 277-290, jul./dez. 2006.
MARIN, A. A. Ética, estética e educação ambiental. Revista de Educação PUC-Campinas, Campinas, n. 22, p. 109-118, jun. 2007.
MARTINS, J. C.; MENDES, R. C. S.; MARTORELLI, B. C. P. O despertar da consciência ecológica na primeira infância: a natureza e seus benefícios na educação infantil. Epitaya Educação, Rio de Janeiro, v. 2, p. 98-112, 2022.
MAYER, F. S.; FRANTZ, C. M. The connectedness to nature scale: a measure of individuals’ feeling in community with nature. Journal of Environmental Psychology, Amsterdam: Elsevier, v. 24, n. 4, p. 503-515, 2004.
MCCREARY, C.; CHEN, H. Beyond knowledge: embodied experiences in environmental education. Childhood & Nature, Saint Paul, v. 18, n. 1, p. 77-92, 2025.
MERLEAU-PONTY, M. A prosa do mundo. São Paulo: Cosac Naify, 2006.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. Londres: Routledge & Kegan Paul, 1962.
MINAYO, M. C. Amostragem e Saturação em Pesquisa Qualitativa: Consensos e controvérsias. Revista Pesquisa Qualitativa, São Paulo, v. 5, n. 7, p.01-12, abr. 2017.
MINAYO, M. C. S; SANCHES, O. Quantitativo-qualitativo: oposição ou complementaridade? Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, p. 239-262, jul./set. 1993.
MOURA, W. S. Desenvolvimento de estratégias pedagógicas de educação ambiental no âmbito da educação infantil envolvendo os temas água e pegada ecológica. 2021. Dissertação (Mestrado em Meio Ambiente e Qualidade Ambiental) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2021.
OLIVEIRA. L. N. Perten(Ser): corporeidade e conexão com a natureza na formação do cidadão ecológico. 2024. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade de Brasília, Brasília, 2024.
PAYNE, P. G. Early years education in the Anthropocene: an ecophenomenology of children’s experience. Environmental Education Research, London, v. 23, n. 10, p. 1425-1448, 2017.
PEREIRA, S. M. S. Trilha sensorial com elementos da natureza: uma experiência escolar na educação infantil. 2022. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia – Licenciatura) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2022.
PICCININNI, C. et al. Children’s mental health and connection with nature: a systematic review. Journal of Child Psychology, Oxford, Inglaterra, Reino Unido, v. 39, n. 2, p. 101-120, 2018.
REED, A. Friluftsliv and childhood education: the power of outdoor immersion. Scandinavian Studies in Education, Oslo, v. 42, n. 3, p. 65-83, 2024.
RODRIGUES, C. A. F. A ecomotricidade na apreensão da natureza: inter-ação como experiência lúdica e ecológica. In: ANDRIGUETTO FILHO, J. M.; RODRIGUES, C. A.; SEVERO, C. (org.). Técnica e ambiente. Curitiba: Editora UFPR, 2019. p. 173-190.
SAHEB, D. A educação ambiental na escola: um estudo à luz do desenvolvimento moral de Jean Piaget. Cadernos da Pedagogia, São Carlos, v. 8, n. 15, 2015.
SATO, M. Ecofenomenologia: uma janela ao mundo. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, Rio Grande, v. 29, p. 23-39, 2016.
SIMÃO, F. P. Educação ambiental e a relação entre animais humanos e não-humanos: um estudo a partir de periódicos internacionais. 2024. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2024.
SOBEL, D. et al. Beyond ecophobia: Reclaiming the heart in nature education. Great Barrington: Orion Society, 1996.
SOBKO, T.; JIA, Z.; BROWN, G. Measuring connectedness to nature in preschool children in an urban setting and its relation to psychological functioning. Plos One, San Francisco, v. 13, n. 11, p. e0207057, 2018. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0207057.
SØRENSEN, H.; KVALØY, M. Percepção na prática: identidade ecológica na educação infantil. Environmental Education Research, London, v. 30, n. 1, p. 56-72, 2024.
TALEBPOUR, L. M. et al. Children’s connection to nature through residential environmental education programs: key variables explored through surveys and field journals. Environmental Education Research, London, v. 26, n. 1, p. 95-114, 2020.
TIRIBA, L. Educação infantil como direito e alegria: entre o cercado e o descampado. Laplage em Revista, Sorocaba, v. 2, p. 63-78, 2017.
WILDENAUER, K. Infância, natureza e aprendizagem: o papel da conexão afetiva na educação ambiental. Revista Brasileira de Educação Ambiental, São Paulo, v. 29, n. 1, p. 88-105, 2024.
WILSON, E. O. Biophilia. Cambridge: Harvard University Press, 1984.