Cidadania nas políticas de currículo da educação em ciências: conduta padrão, diferença e hospitalidade incondicional
DOI:
https://doi.org/10.18675/1981-8106.v34.n.68.s18643Palavras-chave:
Cidadania. Diferença. Educação em Ciências. Hospitalidade incondicional. Políticas de currículo.Resumo
O propósito deste artigo é problematizar as configurações discursivas que entrelaçam as significações de participação social, de conhecimento científico e de exercício da cidadania na política padrão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), focalizando a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias voltada ao Ensino Médio. Partindo de uma implicação epistemológica pós-estrutural discursiva, lança mão das meditações desconstrutivas de Derrida, sobretudo da noção filosófica de hospitalidade incondicional e seu comprometimento com a alteridade radical, para pensar as implicações curriculares do que pode significar a instituição de padrões de aprendizagem para o uso social do conhecimento científico na política da BNCC voltada à educação em ciências. Nesse itinerário, ao aprofundar a discussão sobre a diferença na teorização curricular, desenvolve o argumento de que a fixação pragmática da relação entre o conhecimento científico, a participação social, o exercício da cidadania e a consequente projeção de padrões comportamentais aos sujeitos conduz a pensar no gesto universalista em instituir conduta padrão por meio da aprendizagem escolar de ciências. Defende-se que a noção de hospitalidade incondicional, ao colocar a relação infinita com a alteridade inesperada e a abertura do currículo à diferença no centro do debate, possibilita, ao mesmo tempo, problematizar os limites da representação universalista da identidade cidadã na política de currículo da BNCC, como também pensar em uma política não determinista de currículo, de conhecimento e de participação social, provocando rachaduras nas operações discursivas que circunscrevem padrões sobre o que significa ser cidadão na educação em ciências.
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